PRÁTICAS EDUCACIONAIS EM FRONTEIRAS E INTERSECCIONALIDADE
Keywords:
Práticas educacionais, InterseccionalidadeAbstract
As discussões sobre as práticas educacionais sob ponto de vista das fronteiras (enquanto noção, conceito e discurso) e a consolidação da abordagem interseccional adotada para análise da sociedade tem oportunizado à pesquisa em Educação, em seus mais variados recortes temáticos e abordagens teóricas e metodológicas, o alargamento percepções acerca dos sujeitos, suas inserções, exclusões e dos constrangimentos sociais. Na escola ou em instituições de cunho educativo, as fronteiras, sejam elas espaciais, teóricas, curriculares, sociais, históricas, políticas, materiais, e tantas outras possíveis de serem elencadas, são responsáveis por delimitar nossas possibilidades de ser e estar no mundo. Da mesma forma, raça, gênero e classe são construções político, econômico e sociais que interferem nas nossas relações, estabelecendo formas de acesso e permanência nos territórios que criam/criamos e ocupamos.
O dossiê temático “Práticas Educacionais em Fronteiras e Interseccionalidade” se apresenta como uma oportunidade em acompanhar discussões que são fruto de pesquisas em suas diversas abordagens, recortes, cenários e paisagens. Do Brasil a Moçambique, temos a oportunidade de ficar frente com uma diversidade de temáticas abordadas que apresentadas pelos autores dos textos presentes neste dossiê, que é composto por seis artigos.
No primeiro artigo, as autoras Giovanna de Souza Corbucci e Diana Vidal exploram os caminhos trilhados por Anísio Teixeira e Mario de Andrade entre os anos de 1930. No texto, Corbucci e Vidal discutem o contexto de “exílio” experimentado pelos dois personagens, dentro do Brasil. Demarcam as possibilidades de aproximações e distanciamentos entre Teixeira e Andrade, emoldurados pela estrutura da Universidade do Distrito Federal, frente aos contextos políticos e sociais do período analisado.
Na sequência, Elisa Wanderlei, Pollyana Contarini e Antonio Sgarbi nos inserem em uma análise sobre o discurso veiculado pelo desfile da Escola de Samba Mocidade Unida da Glória, estabelecida em Vila Velha, Espírito Santo, que foi campeã do carnaval de Vitória, em 2023. A partir da análise interseccional do discurso e do silêncio, estruturada em uma pesquisa exploratória e qualitativa, Wanderlei, Contarini e Sgarbi discutem sobre as valorizações e apagamentos históricos na representação sobre a história da cidade de Colatina, homenageada pela escola de samba campeã.
Em “Estratégias Anticapacitistas na Educação Profissional: Concepções que Estruturam a Escola e a Sociedade”, as autoras Priscila Ribeiro Viana e Luciana de Oliveira Rocha Magalhães analisam discussões sobre o capacitismo, termo que nomeia o preconceito e discriminação às pessoas com deficiência, a partir da realização de uma pesquisa cujo objetivo foi compreender as concepções do capacitismo enraizadas na sociedade e reproduzidas dentro das instituições de ensino, o que prejudicam o processo de escolarização e desenvolvimento dos(as) estudantes com deficiência.
Os artigos a seguir detêm análise ao contexto escolar, em diferentes aspectos e abordagens. Elaine Cristina Rodrigues de Moura, Rubiana Zamot e Andreia Fogaça Rodrigues Maricato, no artigo intitulado “Ações afirmativas no enfrentamento do analfabetismo de jovens e adultos no Brasil”, analisam as ações afirmativas brasileiras referentes a temática anunciada. As autoras, através de uma pesquisa bibliográfica e documental, em caráter nacional e internacional, consideram que, embora a educação seja um direito fundamental social e que haja um ordenamento jurídico vigente sobre o assunto no Brasil, identifica-se a manutenção de uma realidade educacional que demanda contínuo enfrentamento pela sociedade.
No artigo “Para ensinar e aprender Geografia na fronteira: transpassar os limites curriculares”, Marcos Irineu Klausberger, tem sua pesquisa ambientada numa região fronteiriça entre Brasil e Uruguai, onde, via abordagem bibliográfica, analisa as especificidades da espacialidade de processos escolares situados em espaço fronteiriço. A discussão apresentada recai sobre a importância da experiência docente e pedagógica estabelecida no trabalho coletivo para o processo de construção do conhecimento no cotidiano, em que a experiência geográfica da vivência em um espaço de circulação entre fronteiras se apresenta como possibilidade para o estabelecimento de saberes escolares que valorizam a diversidade, saberes, culturas; e que enfrente preconceitos e silenciamentos, como elementos voltados à formação para a cidadania.
Por fim, mas não menos importante, e compondo o bloco das discussões ambientadas no espaço escolar, os autores, Ester Samuel Tovela Macuácua, Fernando Francisco Pereira e João Francisco de Carvalho Choé, nos deslocam para Moçambique. Em “Violência Escolar: implicações psicológicas para alunos e professores da escola moçambicanas do ensino básico”, os autores apresentam uma análise sobre as implicações psicológicas dos episódios de violência vivenciados no contexto escolar, tanto por alunos como por professores. Pela pesquisa, realizada a partir de aplicação de entrevistas semiestruturadas, os autores identificam diversos fatores que implicam no cenário analisado, como sociais e culturais, que atravessam o espaço escolar, e outros elementos que são produzidos e extrapolam o interior da escola.
A fotografia dos textos que compõem o dossiê temático revela uma pluralidade de saberes e experiências diversas que não se limitam a um específico recorte. A composição da imagem dessa fotografia nos lança a um contexto em que as fronteiras disciplinares são ultrapassadas e nos permitem vislumbrar possibilidades de arranjos teóricos e metodológicos. Por fim, esperamos que os artigos que compõe a dossiê temático apresentado inspire ao leitor reflexões, questionamentos e fomente o alargamento e o atravessamento das fronteiras de discussões acerca do tema abordado.
Vinicius de Moraes Monção
Faculdade de Educação
Universidade Federal Fluminense
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